Vacas em Lactação

22/01/2010 10:42

 

O que há de especial com o animal lactante?

 

O leite para os mamíferos jovens é a fonte de nutrição mais importante que existe, sendo responsável pelo seu desenvolvimento. Portanto a quantidade e a composição do leite produzido pelo animal lactante são adaptadas às necessidades especiais do jovem. A composição do leite e sua variação entre as diferentes espécies de mamíferos é ilustrada na tabela 1.

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Espécies Água % Gordura % Caseína % Proteína
do soro %
Lactose % Resíduo %

Energia (kcal/100 g)

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Humano 87.1 4.5 0.4 0.5 7.1 0.2 72
Rato 79.0 10.3 6.4 2.0 2.6 1.3 137
Golfinho 58.3 33.0 3.9 2.9 1.1 0.7 329
Cachorro 76.4 10.7 5.1 2.3 3.3 1.2 139
Cavalo 88.8 1.9 1.3 1.2 6.2 0.5 52
Vaca 87.3 3.9 2.6 0.6 4.6 0.7 66
Rena 66.7 18.0 8.6 1.5 2.8 1.5 214

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Composition of milk in various species.

Como exemplo, a Rena vive em regiões muito frias, portanto necessita de uma grossa camada de gordura sob a pele. Essa necessidade é ainda maior para sua cria cuja base alimentar é o leite fornecido pela mãe. Este alimento deve conter uma alta taxa de gordura para suprir a necessidade dessa camada. O filhote do rato, ao nascer, está completamente sem pêlos, necessitando portanto de uma taxa de proteína maior no leite para manter-se até que desenvolva pêlos em seu corpo.

A curva de lactação é distinta entre as várias espécies de mamíferos. Animais de porte maior, como a vaca e a cabra, têm uma curva de lactação longa, com pico de produção no início do período de lactação. Por outro lado, animais de porte menor, como o coelho e o rato, têm uma curva de lactação menor e mais cônica (fechada), demonstrado na fig. 1.

 

Curva de lactação de várias espécies (Adaptado do Biochemistry of lactation, ed T.B. Mepham, 1983).

Curva de lactação de várias espécies (Adaptado do Biochemistry of lactation, ed T.B. Mepham, 1983). Curva de lactação de várias espécies (Adaptado do Biochemistry of lactation, ed T.B. Mepham, 1983).

 

 

Curva de lactação de várias espécies (Adaptado do Biochemistry of lactation, ed T.B. Mepham, 1983).

 

Devido as diferentes demandas de diferentes espécies na composição e na média de produção de leite, a capacidade de produção é praticamente a mesma para todos os animais. Calculado a partir da correlação entre o total de leite produzido por dia e o peso corporal do animal pode-se resumir que a capacidade de produção de leite é em torno de 1,7 ml de leite/g de alimento ingerido por dia, como demonstrado na figura abaixo.

A moderna vaca de produção de leite produz mais leite que os seus bezerros necessitam. Este é o resultadodos programas de criação genética e dos excelentes melhoramentos em alimentação e geenciamento dos rebanhos. Além disso, a demanda dos consumidores pela composição do leite não está totalmente relacionada a capacidade biológica dos ruminantes.Consumidores e a indústria leiteira preferem um leite com baixo teor de gordura e alto teor de proteína. Entretanto os esforços são feitos são feitos para produzir um bom leite através da criação e alimentação. Esta alteração na média de produção de leite e na composição do leite coloca demandas especiais na moderna vaca de produção de leite.

Curva de lactação de várias espécies (Adaptado do Biochemistry of lactation, ed T.B. Mepham, 1983).

Relação entre produção diária de leite e peso corporal (Adaptado de Biochemistry of lactation, ed 7′B. Mepham, 1983).

 

 

 

É possível para a vaca suprir essa demanda ? Primeiramente abordaremos o que ocorre durante a gestação e lactação do ponto de vista biológico. Durante a gestação e lactação o animal é exposto a uma situação fisiológica excepcional. Na gestação o feto recebe nutrientes que garantem seu desenvolvimento e crescimento até o dia do parto e depois disso a fêmea produz uma quantidade suficiente de leite para alimentá-lo. Para administrar isso, a fêmea aumenta seu consumo de alimentos, alterando o metabolismo/digestão e criando uma reserva corporal (tecido adiposo/gorduroso). O trato gastrointestinal aumenta e sua função é otimizada. Durante a lactação o animal deve receber com freqüência alimentos com altas taxas de caloria até aumentar sua ingestão. A reserva do organismo acumulada durante a gestação é agora usada e o metabolismo é transferido utilizando esta reserva para suprir a energia para a produção de leite.

Como esse processo é controlado? Durante a gestação hormônios são ativados e regulam o metabolismo preparando a glândula mamária para iniciar a lactação. Após o parto a lactação continua a ser controlada por diferentes hormônios originários do cérebro, estômago e glândula endócrina e também pela glândula mamária. O ato de sugar é agora um importante estímulo para a glândula mamária influenciando direta e indiretamente os hormônios que controlam a lactação, a ingestão de alimentos e o comportamento. A descoberta da glândula mamária como órgão de controle e não um órgão a ser controlado é um dado importante quando se discute técnica de ordenha. E essa descoberta recente passou a considerar que os nervos que compõem as tetas, de origens diversas, durante o processo de sucção/ordenha, podem influir em diferentes órgãos do corpo e portanto com reações fisiológicas diversas.

 

 

Alimentando o animal lactante

A moderna vaca leiteira tem uma alta demanda por nutrientes, comparada com suas irmãs de antigamente que não sofreram uma seleção capaz de se transformarem em grandes produtoras de leite. As vacas de 100 anos atrás produziam leite suficiente para alimentar sua cria, isto é, no máximo de 2 a 10 litros por dia. Hoje, não é raro encontrar vacas produzindo até 60 kg por dia, o que representa uma grande produção e desenvolvimento. A alta produção de leite está associada com uma excepcional capacidade de nutrição. Antes do parto, como comparação, o feto requer aproximadamente 10% da energia que a vaca ingere, enquanto que a energia necessária para sintetizar o leite pelo organismo requer 80% da energia convertida que o animal consome.

É bem conhecido na moderna produção de leite, que a primeira parte da lactação está associada a distúrbios metabólicos. Durante as primeiras semanas de lactação com a alta produtividade da vaca ocorre muitas vezes um balanço negativo de energia. Sua grande capacidade de produção de leite acaba por criar dificuldade para manter seu próprio organismo com energia suficiente uma vez que sua capacidade de ingerir alimento é limitada para manter seu próprio organismo com energia suficiente uma vez que sua capacidade de ingerir alimento é limitada. Para produzir grande quantidade de leite, a vaca acaba por usar suas reservas orgânicas. Dentro do processo de evolução não é raro ocorrer o balanço negativo de energia, por um curto período: o metabolismo animal passa do processo anabólico (aumento da reserva de energia) para uma situação catabólica (queda da reserva orgânica). Já que a vaca produz muito mais leite do que sua capacidade inicial, de antigamente, o grande desafio é promover esse aumento na capacidade produtiva através da alimentação que é fornecida à vaca durante seu período de lactação.

Produção de leite, energia ingerida líquida e energia balanceada (líquida) durante a lactação de vacas. (Adaptado de: Bauman and Currie,, J. Dairy Science 63: 1514, 1980).

 

Produção de leite, energia ingerida líquida e energia balanceada (líquida) durante a lactação de vacas. (Adaptado de: Bauman and Currie,, J. Dairy Science 63: 1514, 1980).

 

 

Contudo, não é somente no período de lactação que a alimentação do animal deve receber atenção cuidadosa. Sabe-se que um rápido desenvolvimento da fêmea jovem pode proporcionar unia parição mais precoce, mas esse rápido crescimento também proporciona uma menor produção de leite. A estrutura dos dutos condutores forma-se antes da puberdade para depois desenvolver o tecido secretor. Se a novilha tem um rápido desenvolvimento isto faz com que a glândula mamária tenha mais tecido gorduroso comparado com animais de crescimento mais lento. Além disso, essa novilha não tem ainda o plasma de desenvolvimento hormonal completamente formado e esse hormônio afeta profundamente a capacidade de lactação. Outro aspecto é que a taxa e crescimento máximo recomendada para novilhas holandesas ou semelhantes, é em tomo de 600 g por dia estando com peso corporal compreendido entre 90 a 325 kg e um crescimento em tomo de 800 g por dia estando com um peso corporal acima de 325 kg nos três meses antes do parto (Figura 4).

A alimentação durante o período seco é também um desafio. Durante este período a alimentação deverá ser restrita para evitar a formação de gordura que traria distúrbios metabólicos durante o início da lactação. Isto é recomendado porque a vaca prenha no fim do período seco deverá estar preparada para receber (ingerir) um volume de alimento maior no início da lactação evitando um balanço negativo de energia através de um aumento gradual de concentrado fornecido semanas antes de parir. Se esta recomendação é relevante isto pode ser discutido. Pesquisas estão sendo realizadas trazendo indícios esclarecedores nessas questões.

A B

Produção de leite (kg, corrigido por teor de gordura) durante os primeiros 250 dias na primeira lactação, dependendo da taxa de desenvolv. (gldia), compreendido entre 90- 325 Kg de peso corpo- ral (,4) e 325 Kg de peso corporal - 3 meses antes do parto (B)  (Adaptado de Foldager & Sejrsen, 1989. In Mjolkkor, ed. Anderson et aí. 1991, Stockholm). Produção de leite (kg, corrigido por teor de gordura) durante os primeiros 250 dias na primeira lactação, dependendo da taxa de desenvolv. (gldia), compreendido entre 90- 325 Kg de peso corpo- ral (,4) e 325 Kg de peso corporal - 3 meses antes do parto (B)  (Adaptado de Foldager & Sejrsen, 1989. In Mjolkkor, ed. Anderson et aí. 1991, Stockholm).

Produção de leite (kg, corrigido por teor de gordura) durante os primeiros 250 dias na primeira lactação, dependendo da taxa de desenvolv. (gldia), compreendido entre 90- 325 Kg de peso corpo- ral (,4) e 325 Kg de peso corporal – 3 meses antes do parto (B)  (Adaptado de Foldager & Sejrsen, 1989. In Mjolkkor, ed. Anderson et aí. 1991, Stockholm).

 

 

A vaca de leite tem, como um animal ruminante, uma capacidade para digerir alimentos altamente fibrosos tais como a celulose. Por isso a alimentação para as vacas de leite devem consistir de uma ração com uma alta proporção de alimentos não digeríveis, fibras, e urna baixa proporção de concentrado. Hoje, para reduzir o conteúdo de gordura no leite, as fazendas estão alimentando seus rebanhos com altas quantidades de concentrados (incluindo um alto nível de amido). O nível alto de amido e um baixo nível de fibras altera a fermentação no rúmen. Isto irá influenciar o metabolismo da gordura na glândula mamária, resultando no baixo conteúdo de gordura no leite. Também o nível alto de concentrado poderá criar uma desordem no metabolismo dos ruminantes conduzindo a síndrome da baixa gordura do leite.

O que há de tão especial com o trato digestivo dos ruminantes ? Foi mencionado acima que a única habilidade do ruminante é digerir fibras. Esta digestão é realizada no rúmen por um número de diferentes bactérias e outros microorganismos. Durante a fermentação carboidratos são produzidos e digeridos pelos ácidos livres e voláteis de gordura (VFA) tais como o acetato, propionate e butyrate, que são quase sempre absorvidos através da mucosa do rumem. A degradação da proteína no rúmen resulta em 20 a 80% de proteína microbiológica, sendo o restante, 80 a 20%, degradado e digerido no abomaso ou intestino junto com a proteína microbiológica. A alimentação da vaca de leite, geralmente contém uma baixa quantidade de gordura, que é convertida em glicerol e ácidos graxos. Subprodutos do metabolismo microbiológico são transferidos para os outros estômagos e absorvidos por diferentes componentes em várias partes do intestino. O rúmen, retículo e omaso podem ser comparados com uma espécie de câmara de fermentação. Isto é importante para se ter o cuidado quando formos alimentar uma vaca, alimentar primeiro os microrganismos que estarão alimentando as vacas de leite, demonstrado na figura abaixo.

Esquema ilustrativo do sistema digestivo de unia vaca de leite).

Esquema ilustrativo do sistema digestivo de unia vaca de leite).

 

Quanto alimento uma vaca de alta produção pode consumir? A quantidade d alimento que uma vaca de leite pode consumir depende das características do próprio animal e do meio ambiente. Basicamente o apetite da vaca é regulado e controlado por hormônios e ácidos fermentados no rúmen. Deve estar em observação o animal que deixa de se alimentar ou que diminui sua alimentação. n estágio de lactação, a produção de leite, a composição dos alimentos’e a freqüência em que se alimentam são fatores de grande importância. Geralmente, uma vaca de leite com 600 Kg de peso corporal produzindo 50 Kg de leite/dia consome em torno de 25 Kg de matéria seca por dia, ou em outras palavras, uma vaca de alta produção deve consumir 4% dó seu peso corporal de matéria seca por ia. O total de água consumida está entre 3,5 a 5,5 litros/kg de matéria seca ingerida